sexta-feira, 25 de outubro de 2019

ACHADOS LABORATORIAIS EM ALGUNS DISTÚRBIOS CARDIOVASCULARES

As manifestações comuns e condições gerais dos distúrbios cardiovasculares, bem como os diagnósticos diferenciais a serem considerados na avaliação do paciente incluem dispneia, dor torácica, hiperlipidemia, hipertensão arterial e síncope/parada cardíaca súbita. Neste sentido, vamos aqui, tratar dos achados laboratoriais que os alguns dos distúrbios cardiovasculares podem apresentar. 

Constrição pericárdica
Os níveis de BNP e pró BNP-­NT estão menos elevados do que na insuficiência cardíaca ou na miocardiopatia restritiva. 


Disfunção sistólica por miocardiopatia dilatada
Provas de função da tireoide (particularmente no indivíduo idoso com fibrilação atrial), nível de ferritina e CTLF (hemocromatose), avaliação para feocromocitoma, níveis de tiamina, carnitina e selênio (deficiência nutricional), avaliação para doença de Chagas, doença de Lyme, sorologia para HIV e avaliação para miocardite e doenças hereditárias que predispõem à miocardiopatia dilatada.

Insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada
Principais exames: semelhantes aos da insuficiência cardíaca, sem FE reduzida. Hemograma completo, provas de função renal, sorologia hepática e da tireoide para excluir síndromes clínicas que causam confusão BNP e pró­BNP NT: devem ser determinados precocemente se houver qualquer incerteza quanto ao diagnóstico de insuficiência cardíaca. Ambos estão elevados na insuficiência cardíaca diastólica. Não existe nenhum limiar para diferenciar a insuficiência cardíaca sistólica da diastólica, porém os níveis de BNP e de pró­BNP NT tendem a ser mais elevados na insuficiência cardíaca com disfunção de VE. Os limiares diagnósticos para insuficiência cardíaca aguda consistem em > 100 pg/ml e pró­BNP NT > 300 pg/mℓ e constituem preditores independentes de eventos adversos Se a troponina estiver > 99  percentil na apresentação, devem­se considerar as etiologias de coronariopatia, miocardiopatia infiltrativa (amiloide) e miocardite. 

Insuficiência cardíaca congestiva 
A avaliação laboratorial inicial direcionada a pacientes com insuficiência cardíaca inclui hemograma completo para análise de anemia ou infecção passíveis de simular ou agravar a dispneia associada à insuficiência cardíaca. Os níveis sanguíneos de ureia e creatinina podem ajudar a diferenciar os estados de sobrecarga de volume devido à doença renal ou, se a insuficiência cardíaca for confirmada, demonstrar síndrome cardiorrenal em consequência da insuficiência cardíaca de baixo débito. O exame de urina na ICC é notável em decorrência do achado de albuminúria leve (< 1 g/dia) com eritrócitos e leucócitos isolados, cilindros hialinos e granulosos (menos comuns). A densidade específica da urina apresenta­se elevada (> 1,020) em contraposição com a doença renal primária. Em geral, a hiponatremia indica insuficiência cardíaca, embora possa refletir diurese excessiva (com depleção de potássio). O nível sérico diminuído de sódio constitui um poderoso preditor de mortalidade por causa de insuficiência cardíaca As provas de função hepática podem estar alteradas devido à congestão hepática, que é frequentemente acompanhada de elevação da dor RNI com sinais de insuficiência cardíaca direita. A disfunção hepática primária também está associada à miocardiopatia dilatada. Os níveis séricos de albumina e proteína total estão diminuídos na insuficiência cardíaca. O achado de níveis elevados de proteína total pode indicar insuficiência cardíaca em razão da doença infiltrativa (amiloide, sarcoide) A VHS pode estar diminuída em consequência do nível sérico diminuído de fibrinogênio A determinação dos níveis de BNP ou pró-­BNP NT é sugerida na avaliação de todos os pacientes com suspeita de ICC quando o diagnóstico é incerto e constituem uma indicação de classe I para confirmar o diagnóstico de insuficiência cardíaca descompensada em pacientes hospitalizados. 
Ambos apresentam concentrações semelhantes em indivíduos normais, porém estão significativamente elevados na insuficiência cardíaca (pró­-BNP NT quatro vezes mais elevado). Os peptídios natriuréticos estão aumentados na insuficiência cardíaca tanto sistólica quanto diastólica e ajudam no diagnóstico com acurácia semelhante para ambas condições. Existem poucos dados que comparam diretamente o BNP com o pró-­BNP NT, porém foi constatado que ambos ajudam no diagnóstico e no prognóstico de insuficiência cardíaca, bem como na avaliação da eficácia da terapia para insuficiência cardíaca e previsão de taxas de readmissão. Um nível de pró­-BNP NT > 900 pg/ml apresenta uma acurácia equivalente a um BNP > 100 pg/ml diagnóstico (acurácia preditiva de 83%). Valores abaixo desse nível apresentam um valor preditivo negativo muito alto para insuficiência cardíaca como causa de dispneia Os peptídios natriuréticos podem ser utilizados para fins diagnósticos e prognósticos. Independentes de outros fatores clínicos, os quartis de BNP são preditivos de mortalidade do paciente hospitalizado, com risco que varia mais de três a quatro vezes com base no valor inicial do BNP do paciente. Valores > 840 pg/ml conferiram um aumento de duas vezes na mortalidade hospitalar em um grande registro .

Miocardite
Ocorre elevação dos biomarcadores cardíacos em menos da metade de todos os casos agudos, porém não é preditiva de mortalidade em pacientes hospitalizados com miocardite fulminante (CKMB > 29 ng/ml sensibilidade de 83%). Os reagentes de fase aguda estão elevados (VHS, PCR, leucocitose leve). Quando clinicamente apropriado, a sorologia para toxoplasmose, doença de Chagas, triquinelose e cardite de Lyme pode ser realizada, além dos exames para doença autoimune, aspirado de tecido adiposo para amiloidose e ferritina (hemocromatose). 


Referências
WALLACH - Interpretação de exames laboratoriais - 10 Edição. 









Dr. Dermeval Reis Junior
Biomédico CRBM/SP 8102
Fisiologia / Patologia Clínica

DRJ- Instituto Biomédico de Fisiologia e Saúde